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Aparição

por Luís Naves, em 10.01.16

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Assustei-me ao ver aquela figura pálida a caminhar na minha direcção, sorrindo de forma que me pareceu perversa. De súbito, via à minha frente a minha própria imagem ao espelho, mas não havia espelho algum entre nós, aquela era apenas uma pessoa igual a mim, ou o que me pareceu ser uma pessoa, enfim, não era sonho, embora o episódio pudesse tratar-se de alucinação, de um erro da minha parte, do efeito da bebida (sim, confesso, bebera demasiado nessa noite). E a imagem ao espelho não era isso, pois a minha cicatriz na testa fica sempre do lado direito quando me olho ao espelho e, no caso deste estranho silencioso, estava claramente à esquerda a mesma cicatriz que eu tenho. E, quando me refiz do susto, vendo claramente que alguém igual a mim me observava com curiosidade e em silêncio, tentei falar e apenas me ocorriam palavras inúteis, incapazes de traduzir o meu espanto. A cena durou poucos segundos. Depois, tão depressa como aparecera, o homem mergulhou de novo nas sombras, num nevoeiro que a pálida luz dos escritórios ainda iluminava tenuemente. Enquanto na boca do estômago sentia uma poderosa náusea, comecei a imaginar que esse outro semelhante a mim teria uma existência própria e devia, por isso, conhecer as pessoas que eu conhecia. Talvez isso explicasse a estranheza com que alguns amigos agora me recebem, como se testemunhassem a aparição de um fantasma.



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