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Descoberta

por Luís Naves, em 05.11.15

Descobri na Biblioteca Nacional um escritor esquecido, meu homónimo e que viveu há cem anos. Esse Luís Naves (assim se chamava, exactamente como eu) publicou vários livros no início do século XXI, embora só tenha sobrevivido um volume. Descobri-o por acaso e fui o seu primeiro leitor em 32 anos. O nome é coincidência, não existindo relação familiar entre nós, e o pouco que sei dele é mais ou menos o seguinte: em 2009, este meu homónimo publicou um romance chamado Territórios de Caça, sendo o único da sua autoria que sobreviveu aos anos do Grande Vandalismo da década de 30, quando parte da biblioteca foi destruída pela rebelião anti-tecnológica. Há referência a outros títulos, mas perderam-se. A leitura é hoje penosa para quem não se interesse por livros antigos; o estilo antiquado, o assunto ininteligível. Nem sequer entendi o que pretendia este Luís Naves com as suas divagações.

Na definição clássica, a literatura é de cada época, e ali estamos perante um exemplo típico, onde o autor é prisioneiro do seu tempo. No romance que citei, imagina-se a vida numa sociedade diferente, mas não se entende bem a intenção. A prosa é pesada, com referências culturais hoje incompreensíveis. Restam farrapos de informação sobre esta personagem: foi jornalista (encontrei artigos da década de 90 do século XX, mas os assuntos pareceram-me datados). O pouco material que não se perdeu no vandalismo soma uns vinte textos.

Só posso especular, quando penso na existência deste escritor esquecido, mas encontrei acidentalmente uma pequena imagem cuja legenda esclarecia que Luís Naves (que era um tipo forte, de óculos, barba branca) estava ao lado do poeta João Villalobos, cuja imagem se reconhece perfeitamente. Não sei se os dois seriam amigos, mas cruzaram-se pelo menos nessa ocasião. Trata-se do Villalobos em que estão a pensar, cuja obra admiro e que tem outra ligação à minha vida, pois moro a dois quarteirões do parque com o seu nome, com os tranquilos jardins japoneses que parecem pequenos poemas. A propósito, será hoje o 149º aniversário do nascimento do poeta João Villalobos. E foram estas as pistas que descobri, o que não me impede de pensar que talvez esse Luís Naves fosse um pseudónimo ou nome inventado. Que importa se existiu? Afinal, quantas vidas deixam rasto?



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