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viagem da imaginação
Um diário devia servir para contar a parte da vida que não podemos confessar a ninguém, sobretudo a nós próprios. Sempre quis escrever uma espécie de diário, mas nunca o fiz por sentir que isso não é possível. A ficção é uma mentira verdadeira em que ficamos expostos à curiosidade alheia, mas ninguém nos leva a sério; no diário, tudo é pomposamente mentira, ou assim parece, pois o diarista esconde-se atrás de cenários elaborados e histórias complexas. Enfim, o diário é a suprema invenção de uma personagem, o próprio autor, tal como ele se imagina nas suas limitações e sonhos, nas suas fraquezas raramente descritas, nas pequenas invejas e medos. E que interesse pode ter a personagem do autor? Em princípio, pouco, pois aquilo que verdadeiramente importa na literatura é o que está no exterior da esfera íntima de quem escreve, o que se observa, o que se vive e o que se imagina. Raramente ele mesmo, ou é a vaidade que se espalha pelas páginas. Talvez seja assim, não sei. Isto, de qualquer forma, nunca será um diário, pois a verdade não passa de uma aproximação, um ponto de vista. Leiam estas linhas como peregrinação pelo interior do que está fora de mim, deambulações vagas e textos vários, observações, prosas oficinais, nada para levar a sério, reflexões de que me envergonharei, sempre aquém do que imagino, imperfeito, impreciso e em movimento, também sufocante, como poeira solta no vento.