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viagem da imaginação
Depois da inundação, os nevões sérios, com quase um metro de neve. Lisboa fica na mesma latitude de Washington e, após o enfraquecimento da corrente do golfo, o clima modificou-se. Se lermos os livros antigos, encontramos relatos de invernos suaves, e julgo que ao longo do século XX apenas em dois anos nevou em Lisboa, e somente nas zonas mais altas da cidade. Isto começou a mudar em meados do século XXI, quando se instalou um clima mais seco e extremo, com chuvas catastróficas concentradas em poucos dias, semanas e meses sem uma nuvem no céu, verões insuportáveis e nevões de inverno, em cada ano, sobretudo no final de Janeiro. Com neve abundante, Lisboa fica quase paralisada. É muito estranho não ver as pessoas a esvoaçar como pássaros, seguras pelas suas mochilas de propulsão magnética; é estranho não ver as multidões apressadas, em cima dos seus skates ultra-rápidos, que obviamente não podem deslizar na neve; é estranho pressentir que os cidadãos se escondem nas caves dos edifícios, por vezes vinte andares abaixo do solo; é estranho sentir a baixa luminosidade à superfície, o capacete de nuvens grossas, a luz artificial a romper a neblina; e não deixo de associar a neve a um estranho cheiro frio, sei que é ilusão, sei tudo isso, uma impressão apenas minha, mas não deixa de ser estranho o abrandamento dos ruídos normais, como se Lisboa estivesse adormecida, debaixo de um colchão de penas brancas, muito fofo e quente.