Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Nevões

por Luís Naves, em 25.01.16

Depois da inundação, os nevões sérios, com quase um metro de neve. Lisboa fica na mesma latitude de Washington e, após o enfraquecimento da corrente do golfo, o clima modificou-se. Se lermos os livros antigos, encontramos relatos de invernos suaves, e julgo que ao longo do século XX apenas em dois anos nevou em Lisboa, e somente nas zonas mais altas da cidade. Isto começou a mudar em meados do século XXI, quando se instalou um clima mais seco e extremo, com chuvas catastróficas concentradas em poucos dias, semanas e meses sem uma nuvem no céu, verões insuportáveis e nevões de inverno, em cada ano, sobretudo no final de Janeiro. Com neve abundante, Lisboa fica quase paralisada. É muito estranho não ver as pessoas a esvoaçar como pássaros, seguras pelas suas mochilas de propulsão magnética; é estranho não ver as multidões apressadas, em cima dos seus skates ultra-rápidos, que obviamente não podem deslizar na neve; é estranho pressentir que os cidadãos se escondem nas caves dos edifícios, por vezes vinte andares abaixo do solo; é estranho sentir a baixa luminosidade à superfície, o capacete de nuvens grossas, a luz artificial a romper a neblina; e não deixo de associar a neve a um estranho cheiro frio, sei que é ilusão, sei tudo isso, uma impressão apenas minha, mas não deixa de ser estranho o abrandamento dos ruídos normais, como se Lisboa estivesse adormecida, debaixo de um colchão de penas brancas, muito fofo e quente.


Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.



Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D