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Novela incompleta (1)

por Luís Naves, em 13.02.16

Se fosse possível conhecer e controlar a ambição, o ódio e a transgressão, seríamos talvez mais felizes, embora não fôssemos exactamente aquilo que verdadeiramente somos. Porque decidi fugir, em vez de aceitar o fio do destino? Não sei responder a esta pergunta, mas talvez tenha reagido segundo ditava o meu orgulho, que é um dos defeitos mais evidentes da condição humana, ou talvez a explicação esteja numa característica pessoal de não gostar de me submeter, detestar o conformismo, querer explorar todas as oportunidades da vida até chegar ao âmago de cada coisa, deambulando sem rumo nesta minha inquietação permanente. Resisti, não podia ter feito de outra forma. De repente, via-me naquela estrada, nos limites: cada nova curva era invisível até ao último instante, depois ali estava de novo o abismo, a ameaça do último erro. Quase hipnotizado pelo tom espectral do arvoredo que os faróis iluminavam, conduzira o carro num guincho de pneus, montanha acima, com o motor a rugir no máximo esforço. O caminho era uma linha negra que mal se avistava na monotonia da floresta, subindo em ondulação abrupta e a tal velocidade, que os pinheiros crepusculares pareciam formar um padrão de papel. Pareceu-me uma eternidade até chegarmos ao topo da serra, até que sem aviso, a estrada atravessava um muro, havia um portão aberto e entrei loucamente numa longa alameda de plátanos. Só então se avistava o edifício do sanatório, repleto de luz, que se erguia no crepúsculo como um navio fantasma.



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