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viagem da imaginação
E fomos conduzidos pelo primeiro empregado através de longos corredores, depois por escadarias, e avistámos salões e figuras isoladas, todas em traje formal ou vestidos esplendorosos, com aspecto de modelos dos anos 20. Por todo o edifício do antigo sanatório soavam ecos de um ambiente de festa, mas a agitação era ainda vaga e distante. A decoração das paredes pareceu-me misturar estilos, um pouco de tudo, na realidade, mas sobretudo imitações de impressionistas, brilhantemente executadas. Muito discretos, alguns trabalhadores reparavam a parede de uma escadaria, enquanto passavam, imperturbáveis, vários falsos hóspedes. Mas quando nós começámos a subir os degraus, os operários pararam a sua tarefa e começaram a arrumar o equipamento. O nosso quarto, virado para as traseiras, ficava no fundo de uma ala do segundo andar, era espaçoso e tinha o tecto trabalhado com motivos arte nova. A janela grande estava aberta e deixava entrar uma brisa fresca; lá fora, ouvia-se o marulhar do arvoredo e tive a sensação de viajar a bordo de um grande paquete intercontinental. Na parede, em frente à cama larga, havia um pequeno quadro de Edouard Vuillard, mulher a coser em frente a um jardim. Fiquei algum tempo a observar a pintura, só depois decidi mudar de roupa, tomar um duche. Estava cansado; da viagem, da ansiedade, da fuga precipitada, mas ali sentia-me em segurança. Imaginava que ninguém nos poderia encontrar durante pelo menos alguns dias.