Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
viagem da imaginação
Devo ter corado com aquele ‘nosso hóspede’ e fiz outras perguntas sobre a biblioteca, embora continuasse a não entender o objectivo do milionário. Palmer continuou naquele tom didáctico e lançou-se numa longa explicação sobre os livros que escolhia, os espécimes raros que procurava comprar, os critérios que seguia. A biblioteca já tinha mais de dez mil volumes, em apenas quatro temas diferentes. “Os livros são originais e os quadros são imitações”, disse eu, ainda pouco convencido. Foi Sombart quem rebateu a minha dúvida: “Não pode separar. Trata-se de tentar capturar o mistério insondável da beleza”.
“Isso seria um facto se o vosso pintor procurasse produzir quadros originais e não apenas imitações de estilos”. Sombart ponderou aquela minha objecção.
“Isso não teria qualquer função”, disse.
“Deixe-me reformular”, insisti. “Ele pinta magnificamente as obras de outros, por isso deve ser perfeitamente capaz de criar uma pintura sua, uma imagem única e que nunca existiu antes”.
“Sim, naturalmente, é capaz, mas não vejo a relevância”.
“Todos os quadros são de outros pintores”.
“Mas são suficientemente magníficos”, disse Sombart.
“E, no entanto, não possuem qualquer valor...”
“Suponho que terão um elevado valor para quem os olhar, pois são perfeitos. O valor, por assim dizer, está nas suas qualidades, que a cópia reproduz inteiramente”.
“Mas a imitação não tem alma”.
Houve uma pausa. Todos sorriram. “Teria resposta, se a alma existisse. Infelizmente, a sua hipótese é insatisfatória”, respondeu Sombart. Parecia sorrir, mas era simulação. Nessa altura, apontou para a sala de jantar e mudou de tom, dirigindo-se a mim:
“Deve estar esfomeado. Esta noite, foi preparado um verdadeiro banquete e terá a oportunidade de conhecer Brandes”. E, com a mão direita, Sombart fez um gesto largo, que era uma mistura de vénia, cumprimento e convite.