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Os tecidos da emoção

por Luís Naves, em 03.11.15

Hoje encontrei-me com Laura. Passeámos sem destino durante uma hora. Estivemos à beira do rio, a ver a agitação fluvial. Havia na margem um vento robusto, mas não desagradável. As casas flutuantes, no meio da água, davam um toque de cor e ao fundo erguiam-se as torres de Almada; então, entre as nuvens, irrompeu um sol que banhou a ouro o casario da velha cidade. Lisboa respirava glória. Tudo aquilo era poético e ficámos em silêncio a contemplar aquela visão da beleza. Há laços entre as nossas duas almas, sei disso, mas a Laura tem a vida dela e eu tenho a minha, ou melhor: existe uma distância entre nós que as convenções impõem, não obstante o desejo submerso, que não sendo físico, é de outro patamar. Como poderia eu ser suficiente para preencher a sua existência? E ela pensará o mesmo sobre as suas insuficiências humanas. Assim, a distância preserva-nos, na nossa opção de liberdade. E fico a pensar naquilo que nos condena à solidão e que vai além das circunstâncias. Escutando o marulhar da água, entre os ruídos da agitação da cidade, por algum tempo fomos apenas nós a estar ali, isto antes de nos separarmos mais uma vez, e sentimos profundamente a presença um do outro, pelo menos assim me emocionei, percebendo no olhar dela o que me pareceram ser lágrimas de alegria, ou porventura um qualquer efeito do vento nos tecidos da emoção.



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